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Se o dono da barraca pudesse ver o futuro, ficaria atônito com as maravilhas tecnológicas que emanariam de seus produtos. Rádio, televisão, eletrônica. Automóveis. Telefone. Radar. Jumbos. Relógios. Computadores. Aspiradores a vácuo. Maquinas de lavar. Fones de ouvido. Pontes pênseis. Sintetizadores. Asas-delta. Satélites de comunicação. Discos laser. E para não ser parcial: Metralhadoras, tanques, minas, mísseis cruise, ogivas nucleares, MIRV, e poluição. Não subestimemos o efeito do paradigma determinístico clássico da física matemática sobre a nossa sociedade.
Mas não nos iludamos. A tecnologia é nossa própria criação. Nela o que fazemos não é tanto entender o universo como construir minúsculos universos que nos são próprios, tão simples que podemos levá-los a fazer o que queremos. Tudo o que a tecnologia visa é produzir um efeito controlado sobre determinadas circunstâncias. Fazemos nossas máquinas de modo a que elas se comportem deterministicamente. A tecnologia cria sistemas a que o paradigma clássico se aplica. Não imporá que não possamos resolver as equações referentes ao movimento do Sistema Solar – não construímos nenhuma máquina cuja operação dependa da posse dessas respostas.
O dono da barraca lustra suas novas e reluzentes equações,cego a esses problemas, e sonha com um futuro radioso. Os fregueses se juntam a sua volta, fazendo alarido, pechinchando.
Mas que é aquilo? Outra barraca? Não há necessidade de outra barraca. O pessoal da prefeitura deve estar louco por pemitir que esse bando esfarrapado se instale no mercado! E o que estão vendendo?
Dados?
Ouçam, se vocês vão permitir o jogo de dados no mercado, este lugar vai virar uma...
Mas não! Não vieram bancar jogo. Que mais tem para vender nessa barraca?
Seguro de vida? A eficácia da prece? A estatura dos seres humanos? O tamanho dos caranguejos? Pétalas de botão-de-ouro? A freqüência de pobres por casamento promovido pela assistência social? A taxa de divórcio?
Só falta agora uma bola de cristal. O mercado já foi para o beleléu. E diz-se que isto é um mercado científico. Pode semelhante disparate ser ciência?
Ah, pode.
Stewart, I. Será que Deus Joga Dados?, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1990.
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